Você já passou pela situação de precisar faltar ao trabalho por motivos de saúde? Se sim, certamente sabe a importância de ter seus direitos bem esclarecidos quando o assunto é atestado médico.
Como trabalhador CLT, você tem direitos específicos garantidos por lei que protegem sua saúde e seu emprego. Mas vamos ser honestos: nem sempre é fácil entender todas as regras, e muitas vezes surgem dúvidas sobre o que pode ou não pode ser feito.
O atestado médico na CLT é mais do que um simples papel - é sua garantia legal para se ausentar do trabalho sem prejuízos quando sua saúde precisar de atenção. E conhecer bem esse direito pode fazer toda a diferença na sua relação com o empregador.
Preparamos este guia para esclarecer todas as suas dúvidas de forma clara e prática. Vamos conversar sobre seus direitos, obrigações e como se proteger de possíveis problemas.
Como funciona o atestado médico na CLT?
Vamos começar pelo básico: o que exatamente acontece quando você apresenta um atestado médico no trabalho?
O funcionamento do atestado médico na CLT é regulamentado pelo artigo 473 da CLT e outras leis trabalhistas. Quando você apresenta um atestado médico válido, a empresa tem a obrigação legal de aceitar o documento e abonar sua falta - ou seja, não descontar do seu salário.
Mas atenção: existe uma diferença importante entre "aceitar" e "não questionar". A empresa é obrigada a aceitar um atestado válido, mas em situações específicas, pode questionar sua autenticidade se houver indícios concretos de irregularidade.
O atestado médico pode ser emitido por profissionais de saúde habilitados, mas há algumas nuances importantes que você precisa conhecer:
- Médicos: Podem emitir atestados para qualquer tipo de afastamento
- Dentistas: Têm respaldo legal amplo para abonar faltas relacionadas a tratamentos odontológicos
- Psicólogos, fisioterapeutas e outros: Podem emitir atestados apenas para ausências relacionadas a tratamentos sob sua responsabilidade direta, e a aceitação pode variar conforme o entendimento do empregador
Para ser válido, o documento deve conter informações essenciais como data, assinatura do profissional, carimbo com CRM e o período recomendado de afastamento.
Quantos dias são aceitos sem prejuízo no salário?
A legislação previdenciária prevê que um funcionário pode se afastar do trabalho por motivo de doença, em um prazo de até 15 dias sem sofrer perda na remuneração. Este é o período coberto integralmente pelo empregador.
Tabela de cobertura do atestado médico:
Período | Responsável pelo pagamento | Observações |
---|---|---|
1 a 15 dias | Empregador | Salário integral mantido |
Acima de 15 dias | INSS (auxílio-doença) | Após perícia médica |
Acidente de trabalho | Empregador (primeiros 15 dias) | Depois INSS |
Caso real ilustrativo: Júlia, supervisora em uma empresa de logística, apresentou atestados médicos frequentes devido a tratamento oncológico. Durante seis meses, ela se afastou várias vezes por períodos de 3 a 7 dias. A empresa tentou questioná-la, mas Maria manteve toda documentação organizada e orientação médica clara. Resultado: todos os atestados foram aceitos, e ela conseguiu manter seu emprego durante o tratamento.
É importante destacar que a CLT não estabelece um limite específico para o número de atestados que um funcionário pode apresentar em um ano, permitindo que o trabalhador cuide da saúde sempre que necessário.
Como entregar corretamente o atestado na empresa?
A entrega do atestado médico deve seguir algumas regras para evitar problemas:
Prazo de entrega:
- O ideal é entregar o atestado no primeiro dia útil após o retorno ao trabalho
- Algumas empresas têm prazo específico no regulamento interno
- Em casos de urgência, pode ser enviado por terceiros
Documentação necessária:
- Atestado original (a empresa pode solicitar cópia)
- Documento de identidade
- Comprovante de entrega (protocolo)
Procedimento recomendado:
- Procure o setor de RH ou departamento pessoal
- Entregue o documento pessoalmente
- Solicite protocolo de recebimento
- Guarde uma cópia para seus arquivos
Atestado médico no contrato de experiência
O contrato de experiência é uma modalidade especial de contrato por prazo determinado, e muitos trabalhadores têm dúvidas sobre como funciona o atestado médico nesse período.
Durante o contrato de experiência, você mantém todos os direitos trabalhistas, incluindo o direito ao atestado médico. A empresa não pode recusar um atestado válido apenas porque você está em período de experiência.
O contrato é prorrogado em caso de atestado?
Atestado médico não prorroga o contrato de experiência. Esta é uma questão importante e que gera muita confusão.
Por isso, entenda as regras:
- O contrato de experiência tem prazo determinado (máximo 90 dias)
- O afastamento por doença não altera o prazo final
- O contrato pode ser encerrado normalmente na data prevista
- Não há prorrogação automática por causa do atestado
O contrato de experiência só se interromperá na licença médica se ajustado anteriormente pelas partes que haverá esse efeito. Ou seja, seria necessário um acordo específico entre empresa e funcionário.
O que acontece com o contrato se eu apresentar atestado?
Durante o afastamento por atestado médico no contrato de experiência, algumas situações podem ocorrer:
Cenários possíveis:
- Atestado de poucos dias: O contrato continua normalmente
- Atestado próximo ao fim: O contrato termina na data prevista
- Atestado longo: Pode haver suspensão do contrato
O afastamento por auxílio-doença (acima de 15 dias) pode levar à suspensão do contrato de trabalho, mas isso não acontece automaticamente. A suspensão depende do tipo de afastamento e sua duração. Durante esse período, o vínculo empregatício é mantido, mas sem pagamento de salário pela empresa, já que o benefício vem do INSS.
É fundamental entender que você não pode ser prejudicado por apresentar atestado médico durante o período de experiência. Isso seria discriminação por motivo de saúde.
Principais direitos sobre atestados médicos
Conhecer seus direitos é essencial para não ser prejudicado no trabalho. A legislação brasileira oferece proteção robusta aos trabalhadores que precisam se afastar por motivos de saúde.
O que a CLT diz sobre atestados médicos?
O artigo 6º da Lei n.º 605/1949 reconhece o documento como justificativa válida para abono de faltas em caso de doenças e acidentes de trabalho. Esta lei é complementar à CLT e específica sobre o assunto.
Principais direitos garantidos:
- Abono da falta por motivo de saúde
- Manutenção do salário durante o afastamento (até 15 dias)
- Proteção contra demissão discriminatória
- Tratamento igualitário no ambiente de trabalho
É importante esclarecer que não existe estabilidade automática para todos os trabalhadores que apresentam atestado médico. A estabilidade só ocorre em situações específicas, como gestantes, vítimas de acidente de trabalho ou casos previstos em acordos coletivos.
O atestado médico é um direito garantido ao trabalhador pelo art. 6º da Lei 605/49, e também está sob proteção constitucional através dos direitos fundamentais à saúde e ao trabalho digno.
Quantos atestados médicos posso entregar no mês?
Não existe limite legal para o número de atestados que você pode apresentar por mês. A CLT não estabelece um limite específico para o número de atestados que um funcionário pode apresentar em um ano, permitindo que ele cuide da saúde sempre que necessário.
Situações que podem gerar múltiplos atestados:
- Tratamentos médicos continuados
- Consultas especializadas
- Exames diagnósticos
- Retornos médicos obrigatórios
Importante lembrar:
- Todos os atestados devem ser legítimos
- A empresa pode questionar atestados suspeitos
- O uso abusivo pode gerar advertências
- Em casos extremos, pode haver demissão por justa causa
Posso ser demitido por excesso de atestados?
A demissão por excesso de atestados é uma situação delicada e controversa. Em geral, você não pode ser demitido apenas por apresentar atestados médicos legítimos.
Jurisprudência recente destaca: O Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região reconheceu dispensa discriminatória nos casos em que o empregado apresenta atestado médico e é demitido logo em seguida, sem justificativa plausível. Decisões de dezembro de 2024 confirmam que demissão durante atestado médico pode gerar indenização por danos morais ao trabalhador.
Situações que podem gerar demissão:
- Atestados falsos ou fraudulentos
- Uso abusivo comprovado (como trabalhar em outro local durante o atestado)
- Má-fé na apresentação de documentos
- Abandono de emprego disfarçado
Caso real de fraude: Em agosto de 2024, a Justiça do Trabalho manteve justa causa de trabalhadora que apresentou atestado médico por conjuntivite e foi trabalhar para outro empregador no mesmo dia. Este caso mostra que o uso fraudulento realmente pode levar à demissão por justa causa.
Proteções legais:
- Atestados legítimos devem ser respeitados
- Demissão por doença pode ser considerada discriminatória
- Trabalhador pode recorrer à Justiça do Trabalho
- Empresa deve comprovar má-fé para demitir por justa causa
Limites legais para questionamento: A empresa pode questionar a veracidade do atestado quando houver indícios concretos de irregularidade. O procedimento correto inclui:
- Encaminhamento ao médico do trabalho para avaliação
- Solicitação de perícia médica em casos duvidosos
- Investigação discreta sobre possível fraude
- Documentação de todos os questionamentos
É importante manter todos os atestados organizados e guardar cópias como prova de legitimidade.
Empresa pode recusar um atestado médico?
A empresa é obrigada a aceitar um atestado ou declaração de horas válido como justificativa para a ausência do trabalhador, desde que esse cumpra os requisitos exigidos.
Novidades na validação: O setor médico tem discutido a implementação de sistemas digitais para validação de atestados, visando combater fraudes. Embora ainda não haja obrigatoriedade nacional, algumas instituições já estão adotando tecnologias de verificação digital para dar mais segurança aos documentos.
A empresa pode recusar quando:
- O atestado não tem os requisitos legais
- Há suspeita de falsificação
- O documento está ilegível ou incompleto
- O profissional não está habilitado
- Há indícios concretos de irregularidade
A empresa NÃO pode recusar quando:
- O atestado está correto e completo
- Foi emitido por profissional habilitado
- Contém todas as informações necessárias
- Não há motivos fundamentados para questionamento
Procedimento empresarial para questionamento: Quando há dúvida sobre a veracidade do atestado, a empresa deve:
- Registrar formalmente os motivos da suspeita
- Encaminhar o funcionário ao médico do trabalho
- Solicitar parecer médico oficial
- Manter diálogo transparente com o trabalhador
- Documentar todo o processo
Caso prático de recusa indevida: João, técnico em informática, teve seu atestado odontológico recusado pela empresa alegando que "dor de dente não é motivo para faltar". Após orientação jurídica, João protocolou a recusa e acionou o sindicato. A empresa foi obrigada a aceitar o atestado e pagar as horas como trabalhadas, pois a recusa foi considerada indevida.
A resolução n° 1819 aprovada pelo Conselho Federal de Medicina proíbe a inclusão do CID em atestados. Assim, a ausência do CID não serve como indício ou prova de que o documento apresentado pelo funcionário é falso.
O que fazer se o empregador não aceitar o atestado?
Quando o empregador recusa um atestado médico válido, você tem várias opções para resolver a situação e garantir seus direitos.
Processo para afastamento superior a 15 dias no INSS:
Quando seu atestado médico indica necessidade de afastamento por mais de 15 dias, é preciso acionar o INSS para receber o benefício por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença). O processo foi modernizado e hoje oferece duas modalidades:
Atestmed (Análise Documental): Para afastamentos de até 180 dias, você pode usar o sistema Atestmed:
- Acesse o aplicativo ou site "Meu INSS"
- Escolha "Pedir Benefício por Incapacidade"
- Não precisa ter login inicial
- Envie digitalmente: atestado médico, documento com foto, CPF
- O prazo atual para resposta é de 26 dias
- Se aprovado, recebe o benefício sem perícia presencial
Perícia Médica Presencial: Para casos mais complexos ou quando o Atestmed for negado:
- Agende pelo Meu INSS ou telefone 135
- Compareça com documentação médica completa
- Leve todos os exames e relatórios médicos
- O perito avaliará sua incapacidade
- Prazo de 90 dias para transferir para outra cidade se necessário
Documentos necessários:
- Atestado médico original
- Documento com foto
- CPF
- Carteira de trabalho
- Comprovante de residência
- Exames médicos realizados
- Relatórios de tratamento
- Receitas médicas
Consequências práticas dos afastamentos frequentes:
É fundamental entender o impacto real que afastamentos médicos podem ter na sua carreira:
Impactos positivos quando bem gerenciados:
- Demonstra responsabilidade com a saúde
- Evita agravamento de problemas médicos
- Mostra transparência com a empresa
- Pode gerar empatia e apoio da equipe
Possíveis impactos negativos:
- Avaliações de desempenho prejudicadas
- Perda de oportunidades de promoção
- Questionamentos sobre comprometimento
- Sobrecarga para colegas de trabalho
Como se proteger profissionalmente:
- Mantenha comunicação transparente: Converse com seu gestor sobre sua condição médica (sem obrigação de detalhar)
- Organize coberturas: Sempre que possível, prepare handovers para colegas
- Documente tudo: Mantenha arquivo completo de atestados e comunicações
- Busque alternativas: Quando viável, negocie home office ou horários flexíveis
- Invista em qualificação: Use períodos estáveis para desenvolvimento profissional
Caso real de gestão profissional: Carlos, analista financeiro, foi diagnosticado com depressão e precisou de afastamentos regulares para terapia. Em vez de omitir, ele conversou com o RH sobre flexibilização de horários. A empresa aceitou que ele saísse duas vezes por semana às 16h para consultas, compensando o tempo. Resultado: manteve o tratamento, não precisou de atestados frequentes e foi promovido no ano seguinte.
Como comprovar a validade do atestado médico?
Para comprovar que seu atestado é válido, você pode:
Documentação adicional:
- Receituário médico da consulta
- Comprovante de pagamento da consulta
- Exames médicos realizados
- Histórico médico do tratamento
Verificação profissional:
- Consultar o CRM do médico no site do conselho
- Contatar o consultório ou clínica
- Solicitar segunda via do atestado
- Pedir declaração adicional do médico
Procedimentos recomendados:
- Protocole a entrega do atestado por escrito
- Mantenha todas as cópias organizadas
- Documente a recusa da empresa
- Busque orientação jurídica se necessário
Onde buscar ajuda jurídica gratuita?
Existem várias opções de ajuda jurídica gratuita para trabalhadores:
Órgãos públicos:
- Ministério Público do Trabalho (MPT)
- Defensoria Pública
- Superintendência Regional do Trabalho
- Sindicato da categoria
Serviços gratuitos:
- Justiça do Trabalho (sem custos processuais)
- Núcleos de Assistência Jurídica em universidades
- OAB - Ordem dos Advogados do Brasil
- Procon (em casos de direitos do consumidor)
Canais de denúncia:
- Ouvidoria do MPT
- Canal de denúncias do Ministério do Trabalho
- Disque Direitos Humanos: 180
A Konsi entende as dificuldades financeiras que podem surgir durante afastamentos médicos e oferece soluções de crédito consciente para trabalhadores CLT que precisam de apoio financeiro.
Dicas práticas para não ter problemas com atestado médico
Seguir algumas práticas simples pode evitar problemas futuros com atestados médicos e garantir que seus direitos sejam respeitados.
Documentação necessária
Manter a documentação organizada é fundamental para comprovar a legitimidade dos seus atestados:
Arquivo físico:
- Pasta exclusiva para documentos médicos
- Separação por data e tipo de atestado
- Cópias de todos os documentos entregues
- Protocolos de recebimento da empresa
Arquivo digital:
- Digitalização de todos os atestados
- Backup em nuvem para segurança
- Organização por pastas e datas
- Fotos dos documentos originais
Controle de entrega:
- Planilha com datas de entrega
- Nome de quem recebeu na empresa
- Número do protocolo
- Período de afastamento de cada atestado