O empréstimo consignado CLT, oficialmente conhecido como Crédito do Trabalhador, é uma modalidade de crédito que tem ganhado cada vez mais espaço entre os trabalhadores de carteira assinada no Brasil. Mas, como todo crédito, ele exige responsabilidade. A dúvida que fica é: o que acontece se você não pagar o empréstimo consignado CLT? Será que perde o emprego? O nome vai para a negativação? Vamos direto ao ponto para desmistificar esse assunto.

O que é o empréstimo consignado CLT e como ele funciona no dia a dia?

O empréstimo consignado CLT ou Crédito do Trabalhador é um tipo de crédito onde as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento do trabalhador. Isso significa que, antes mesmo de o seu salário cair na conta, a parcela do empréstimo já foi abatida. Esse mecanismo de desconto em folha é a principal característica e o grande diferencial dessa modalidade.

Na prática, quando você contrata o Crédito do Trabalhador, o banco ou instituição financeira faz um acordo com a sua empresa. A empresa, então, se compromete a descontar a parcela do seu salário todos os meses e repassar esse valor para o banco. Esse processo é realizado via eSocial, um sistema do governo federal que unifica as informações trabalhistas, previdenciárias e fiscais.

O uso do FGTS Digital, por exemplo, facilita o pagamento das parcelas pelos empregadores, conforme informações do Ministério do Trabalho e Emprego.

Esse processo facilita muito a aprovação do crédito e, em geral, resulta em taxas de juros muito mais baixas se comparadas a outros tipos de empréstimos, como o pessoal ou o rotativo do cartão de crédito.

No caso do Crédito do Trabalhador, o público-alvo são trabalhadores com carteira assinada, incluindo categorias específicas como os trabalhadores rurais e domésticos que possuem vínculo formal de emprego. É uma ferramenta de crédito que pode ser muito útil, mas que também cria um comprometimento direto de parte da sua renda, o que exige planejamento financeiro.

Por que o banco pode te dar esse crédito mais fácil?

A facilidade de acesso e os juros mais baixos do Crédito do Trabalhador têm uma explicação simples: a segurança para o banco. Como o desconto é feito direto na folha de pagamento, o risco de inadimplência para a instituição financeira diminui drasticamente. É uma garantia de que o pagamento será feito, mesmo que o trabalhador tenha outras contas em atraso.

Essa característica elimina a necessidade de grandes análises de crédito ou a exigência de um convênio específico da empresa com o banco. Para o consignado CLT, basta que a empresa seja pagadora de salários e que o trabalhador tenha margem consignável disponível.

Conforme a Medida Provisória (MP) 1.292/2025, que regulamenta essa modalidade, a margem consignável para trabalhadores CLT é de 35% do salário bruto, incluindo comissões, abonos e demais benefícios.

Em caso de demissão: o que acontece com a dívida?

A demissão é um momento de incerteza para qualquer trabalhador, e a preocupação com as dívidas, especialmente o consignado, é natural. Se você for demitido sem justa causa, a legislação brasileira prevê que até 10% do saldo do seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e 100% da multa rescisória (aqueles 40% sobre o saldo do FGTS que a empresa paga em caso de demissão sem justa causa) podem ser usados para quitar ou amortizar o saldo devedor do seu empréstimo consignado.

Exemplo prático: Imagine que você tem um saldo de R$ 10.000 no FGTS e R$ 5.000 de multa rescisória. O banco poderá usar até R$ 1.000 do seu FGTS (10%) e os R$ 5.000 da multa rescisória, totalizando R$ 6.000 para abater na sua dívida. É importante notar que as regras específicas para o uso desses valores na quitação do consignado podem variar entre as instituições financeiras, sendo fundamental consultar o contrato específico assinado.

E se o valor da rescisão não cobrir a dívida? Se o montante da sua rescisão (FGTS + multa) não for suficiente para quitar todo o empréstimo, o saldo restante da dívida se transforma em um empréstimo pessoal. Isso significa que as parcelas não serão mais descontadas do seu salário, e você passará a pagar via boleto bancário ou débito em conta.

Nesse cenário, o banco entrará em contato com você para negociar a melhor forma de pagamento. É crucial que você seja proativo e busque a instituição financeira para discutir as opções antes mesmo de o problema se agravar.

Já falamos sobre como fica o consignado em caso de demissão no blog da Konsi:

O que acontece se a empresa não repassar a parcela do consignado ao banco?

Aqui está um ponto muito importante e que gera bastante confusão. A responsabilidade pelo desconto da parcela do seu salário e o repasse ao banco é exclusiva da empresa. Ou seja, é dever do empregador cumprir com essa obrigação.

Se a sua empresa descontou o valor da parcela do seu salário (e você pode comprovar isso através do seu holerite/contracheque), mas não efetuou o pagamento à instituição financeira, você, trabalhador, não pode ser prejudicado.

Seu nome não pode ser negativado (incluído em cadastros de inadimplentes como SPC e Serasa) e o banco não pode te cobrar diretamente essa parcela, pois a falha foi da empresa.

Essa falha é de responsabilidade da empresa, que pode sofrer sanções administrativas, cíveis e até criminais por apropriação indébita. Com a aprovação da Medida Provisória n.º 1.211/2024, que regulamenta o Crédito do Trabalhador, a obrigação das empresas de repassar as parcelas do Consignado CLT aos bancos no prazo contratual foi reforçada.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em caso de atraso ou não repasse, a empresa poderá ser multada em 30% sobre o valor total retido.

Caso a empresa não repasse o valor, você deve procurar o banco com seus holerites para esclarecer a situação e, se necessário, buscar seus direitos na justiça do trabalho ou junto a órgãos de defesa do consumidor.

O que acontece se o trabalhador não pagar as parcelas do consignado CLT?

Mesmo com o desconto em folha, podem ocorrer situações (como a demissão sem cobertura total da dívida) em que o pagamento via boleto ou débito em conta se torna necessário. E o que acontece se, nesse novo formato, você não honrar as parcelas do seu Crédito do Trabalhador? As consequências são sérias:

  1. Negativação do nome: Após um período de atraso, que geralmente varia de 30 a 90 dias, seu nome pode ser incluído em cadastros de inadimplentes, como SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) e Serasa. Ter o nome negativado dificulta muito a sua vida financeira.
  2. Dificuldade de acesso a novos créditos: Com a negativação, fica praticamente impossível conseguir novos empréstimos, financiamentos (seja para casa ou carro), e até mesmo cartões de crédito. Sua pontuação de crédito (score) cai drasticamente, sinalizando para o mercado que você é um mau pagador.
  3. Cobrança judicial: Se a dívida persistir e as tentativas de negociação falharem, o banco pode entrar com uma ação judicial para cobrar o valor. Isso significa um processo na justiça, que gera custos adicionais (custas processuais, honorários advocatórios) e mais dor de cabeça.
  4. A dívida acompanha seu novo emprego CLT: Se você sair da empresa e for contratado por outra com carteira assinada, a dívida do Crédito do Trabalhador pode ser transferida para o novo vínculo empregatício para que os descontos voltem a ser feitos em folha. Isso significa que a obrigação de pagar acompanha você em todo e qualquer vínculo CLT futuro, garantindo ao banco a continuidade do desconto.

Posso perder meu emprego por causa da dívida do consignado?

Essa é uma das maiores preocupações de quem tem um empréstimo consignado: a possibilidade de perder o emprego por causa de uma dívida. É fundamental esclarecer de forma definitiva: a dívida do empréstimo consignado é de caráter pessoal e, portanto, o não pagamento não configura motivo para demissão por justa causa.

Enquanto você estiver empregado e o desconto for feito diretamente na folha, a dívida é uma questão entre você e o banco. A empresa apenas intermedia o pagamento. Mesmo que o banco acione a empresa para informar sobre atrasos (o que só aconteceria se houvesse algum problema no repasse, por exemplo), a dívida em si não justifica uma demissão.

O objetivo é tranquilizar o leitor em relação a esse medo comum. No entanto, é crucial manter a regularidade dos pagamentos para evitar as outras consequências financeiras já mencionadas.

Tem como negociar a dívida do consignado CLT se eu não conseguir pagar?

Sim, sempre há como negociar a dívida do consignado CLT se você estiver com dificuldades para pagar, especialmente se a dívida deixou de ser descontada em folha após uma demissão, por exemplo. A chave é a proatividade: procure o banco antes que a situação se agrave e seu nome seja negativado.

Veja algumas opções de negociação:

  • Renegociação de prazos e valores: O banco pode oferecer um alongamento do prazo de pagamento, o que reduz o valor das parcelas mensais, tornando-as mais acessíveis ao seu orçamento. Essa é uma das formas mais comuns de renegociação.
  • Portabilidade de crédito: Se você encontrar uma instituição financeira que ofereça juros mais baixos para o mesmo tipo de empréstimo, você pode solicitar a portabilidade da sua dívida. Isso significa que o novo banco "compra" sua dívida do banco original, e você passa a ter parcelas menores com o novo credor. Plataformas de comparação de crédito podem ajudar a encontrar as melhores condições para portabilidade e refinanciamento.
  • Refinanciamento: Você pode solicitar um novo empréstimo consignado no mesmo banco onde já tem a dívida, ou em outro. O valor liberado é usado para quitar a dívida anterior, e você começa a pagar novas parcelas, muitas vezes com juros mais baixos e prazos mais longos. Essa pode ser uma excelente estratégia para unificar dívidas e reduzir o custo total.
  • Diálogo aberto: A pior coisa é evitar o contato com o credor. Os bancos têm interesse em receber o que lhes é devido e, muitas vezes, estão abertos a negociar soluções que sejam viáveis para ambos os lados. Um bom diálogo pode evitar problemas maiores, como a negativação e ações judiciais.

Se você busca simular seu empréstimo ou refinanciar uma dívida para ter condições mais vantajosas, busque plataformas confiáveis para realizar sua simulação e encontrar a transparência que você merece.

Como evitar problemas com o empréstimo consignado CLT e manter a saúde financeira?

A melhor estratégia é sempre a prevenção. O empréstimo consignado, ou Crédito do Trabalhador, pode ser um excelente aliado financeiro, mas exige planejamento e consciência. Aqui estão dicas práticas para você evitar problemas e manter suas finanças em dia:

  1. Planeje seu orçamento cuidadosamente: Antes de contratar qualquer empréstimo, faça um levantamento detalhado das suas receitas e despesas. Entenda exatamente quanto sobra por mês e qual parcela você realmente consegue pagar sem apertar o orçamento. Não se baseie apenas na margem consignável disponível, mas na sua real capacidade de pagamento.
  2. Simule diferentes cenários: Use simuladores online para comparar ofertas de diferentes bancos. Veja não só o valor da parcela, mas o Custo Efetivo Total (CET), que inclui juros, tarifas e seguros, e mostra o custo real do empréstimo. Isso garante que você está fazendo a escolha mais econômica.
  3. Leia o contrato com atenção total: Parece óbvio, mas muitas pessoas pulam essa etapa. O contrato contém todas as regras, taxas, prazos e condições do empréstimo. Entenda cada cláusula antes de assinar. Se tiver dúvidas, pergunte ao atendente e, se preciso, leve o contrato para casa e leia com calma. As regras podem variar entre instituições financeiras.
  4. Não comprometa mais do que pode pagar: Respeite sua margem consignável de 35% do salário bruto, mas também seu limite pessoal. Se 35% do seu salário puder ser comprometido com a parcela, mas isso te deixar sem fôlego financeiro, opte por um valor menor. Lembre-se que imprevistos acontecem.
  5. Use o crédito de forma consciente e inteligente: O empréstimo consignado deve ser um meio para solucionar problemas financeiros ou realizar sonhos, e não para criar novas dívidas.
    • Para quitar dívidas mais caras: Use-o para pagar dívidas com juros muito mais altos, como cheque especial ou cartão de crédito. Essa é uma das melhores aplicações do consignado, pois pode gerar uma economia significativa de juros.
    • Para investir em algo com retorno: Seja em educação, reforma da casa que aumentará seu valor de mercado, ou até um pequeno negócio.
    • Evite o consumo impulsivo: Não use o consignado para gastos supérfluos que não trazem nenhum retorno financeiro ou bem-estar duradouro.