Você conferiu seu extrato do INSS e percebeu um desconto que nunca autorizou? Se a resposta for sim, você não está sozinho. 

De acordo com dados do Ministério da Previdência Social e da Controladoria-Geral da União (CGU), cerca de 3,8 milhões de aposentados e pensionistas em todo o Brasil foram surpreendidos com cobranças indevidas feitas por associações e sindicatos desconhecidos

Essas cobranças, que ocorreram principalmente entre 2019 e 2024, envolveram valores mensais que variavam entre R$ 20,00 e R$ 50,00 por beneficiário, resultando em um impacto estimado de R$ 6,3 bilhões em pagamentos irregulares.

Neste artigo, explicamos em detalhes como esse golpe aconteceu, quem está por trás dele, o que o governo está fazendo e, principalmente, o que você pode fazer agora para verificar, cancelar e recuperar os valores descontados de forma ilegal.

O que foi o esquema de fraude dentro do INSS

 

Nos últimos anos, um esquema de fraude tem causado enorme preocupação entre aposentados e pensionistas do INSS. Golpistas se aproveitam da falta de fiscalização e da boa fé dos segurados para aplicar descontos indevidos, muitas vezes sem que os beneficiários tenham conhecimento

Essas cobranças, realizadas por meio de associações e sindicatos, ocorreram de forma sistemática, prejudicando milhões de pessoas em todo o Brasil. 

Neste trecho, vamos explicar em detalhes como funcionava esse golpe, quais foram os envolvidos e como você pode se proteger dessa prática ilegal.

Descontos indevidos por associações e sindicatos

 

A fraude no INSS consistia em descontos não autorizados aplicados diretamente na folha de pagamento de aposentados e pensionistas, sob o pretexto de mensalidades associativas

Chamaram a atenção da CGU fatores como:

  • O fato das cobranças partirem de sindicatos e associações que, em sua maioria, não tinham sequer estrutura operacional para oferecer os serviços que alegavam. 
     
  • O fato dos sindicatos e associações não terem a documentação necessária para se credenciar junto ao INSS, o que demonstrava o caráter fraudulento do esquema
     
  • A CGU identificou que um grande número dessas entidades funcionava como fachadas, sem qualquer capacidade de atender aos beneficiários ou de cumprir com as suas obrigações legais. 
     
  • Mais de 70% das entidades não entregaram os documentos obrigatórios para o credenciamento. 

No entanto, o INSS, mesmo diante de denúncias e falhas nos registros, manteve acordos com essas associações, permitindo que as cobranças indevidas continuassem por anos.
 



Como os segurados eram registrados sem consentimento

 

Um dos aspectos mais alarmantes dessa fraude foi a forma como os aposentados e pensionistas eram incluídos em cadastros de associações e sindicatos sem nunca terem autorizado qualquer vínculo. 

Muitos beneficiários só descobriram os descontos ao consultar o extrato do benefício — e, em alguns casos, depois de meses ou até anos de prejuízo acumulado. 

O que parecia um erro isolado revelou-se parte de um esquema amplo e organizado, que usava brechas no sistema de convênios do INSS para registrar automaticamente segurados sem a devida comprovação de consentimento.

As investigações conduzidas pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pelo Ministério da Previdência Social mostraram que esses registros fraudulentos envolviam:

  1.  o uso indevido de dados pessoais, como nome completo, número do benefício e CPF. 
     
  2. termos de filiação forjados, assinaturas digitalizadas sem autorização ou até documentos em branco preenchidos sem o conhecimento do segurado. 

Essas práticas comprometeram não apenas a segurança dos dados dos beneficiários, mas também a integridade de todo o sistema de consignações da folha do INSS.
 

Como o golpe afetou aposentadorias e pensões

 

O golpe das cobranças indevidas teve um impacto direto e profundo no orçamento de milhões de aposentados e pensionistas.

 Muitos perderam parte significativa de sua renda mensal sem sequer saber a origem do desconto. 

Um prejuízo bilionário que expôs falhas graves no sistema e afetou justamente os brasileiros mais vulneráveis.

Entre 2019 e 2024, estima-se que R$ 6,3 bilhões tenham sido desviados de forma irregular. As mensalidades variavam de R$ 20 a R$ 50, mas com milhões de beneficiários sendo lesados, o impacto se tornou bilionário.

Impacto direto no benefício líquido dos segurados


Para aposentados e pensionistas que dependem exclusivamente do INSS para viver, o desconto injusto significava:

  • Menos dinheiro para alimentação e remédios
     
  • Endividamento inesperado
     
  • Desconfiança no sistema de Previdência Social
     

Quem são os envolvidos e qual foi a resposta do governo

 

As investigações revelaram a participação de dezenas de entidades e intermediários no esquema, muitos com acesso facilitado a dados sigilosos dos beneficiários. 

A rede de fraudes envolvia associações, sindicatos e servidores com influência dentro do sistema do INSS. Diante da repercussão, o governo precisou reagir com medidas emergenciais

As ações vão desde auditorias até a suspensão de descontos automáticos via sistema.

 

Afastamento de Stefanutto e outros servidores

 

O então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi afastado do cargo. Outros servidores também estão sendo investigados por:

  • Possível envolvimento direto na liberação de descontos
     
  • Recebimento de propinas por parte das entidades envolvidas
     
  • Falhas administrativas e omissão diante de denúncias
     

Operação Sem Desconto: o que foi apreendido e quem foi preso

 

Para desmontar o esquema de fraudes, a Polícia Federal deflagrou a Operação Sem Desconto, em parceria com o Ministério da Previdência e a Dataprev. A ação mirou diretamente os responsáveis por inserir descontos indevidos nos benefícios do INSS. 

Durante a operação, foram apreendidos documentos, computadores e valores em dinheiro

Também houve prisões e bloqueios de bens ligados aos envolvidos no esquema. A Operação Sem Desconto resultou em:

  • Apreensão de R$ 41 milhões em bens
     
  • Prisão de dirigentes e intermediários de associações
     
  • Descoberta de transferências de mais de R$ 17 milhões para ex-diretores ligados ao esquema
     

Como verificar se você foi vítima do golpe

 

Com tantas fraudes identificadas, é natural que aposentados e pensionistas que recebem pelo INSS queiram saber se foram vítimas. 

Muitos dos descontos eram aplicados de forma silenciosa e passavam despercebidos por meses ou até anos. Por isso, é fundamental aprender a consultar corretamente o extrato do benefício. 

A seguir, mostramos o passo a passo para você identificar qualquer cobrança indevida e agir rapidamente.

 

Consultando o extrato de pagamento no Meu INSS

 

Você pode consultar se há descontos indevidos acessando o aplicativo ou site do Meu INSS. Veja o passo a passo:

  1. Acesse o aplicativo ou o site do Meu INSS
     
  2. Faça login com CPF e senha do Gov.br
     
  3. Na tela inicial, clique em "Extrato de benefício"
     
  4. Selecione o número do benefício
     
  5. Verifique se há cobranças sob o nome de mensalidade associativa

     

Passo a passo para identificar descontos de associações

 

Além disso, siga este caminho dentro do Meu INSS:

  • Clique em “Mais serviços”
     
  • Selecione “Mensalidade associativa”
     
  • Veja quais entidades estão aplicando descontos no seu benefício

     

Como pedir cancelamento e bloqueio de novos descontos

 

Se você identificou um desconto indevido no seu extrato do INSS, é essencial agir o quanto antes. 

Felizmente, o governo criou mecanismos para facilitar o cancelamento dessas cobranças e impedir que novos débitos sejam feitos sem autorização. 

O processo é gratuito e pode ser feito online ou por telefone. Abaixo, explicamos o passo a passo para garantir sua segurança financeira.

Se identificou um desconto indevido? 

Veja como pedir o cancelamento:
 

  1. Acesse o Meu INSS com seu login
     
  2. Clique em “Novo Pedido
     
  3. Digite “Excluir mensalidade” na lupa
     
  4. Selecione “Excluir mensalidade de associação ou sindicato no benefício
     
  5. Atualize seus dados e clique em “Avançar
     
  6. Anexe os documentos, se solicitado
     
  7. Escolha uma agência do INSS para acompanhamento
     
  8. Confirme as informações e finalize o pedido
     

A devolução do dinheiro: o que já foi definido

 

Depois de cancelar os descontos indevidos, muitos segurados querem saber: é possível reaver o dinheiro perdido? A resposta é sim — mas o processo ainda está em fase de estruturação. 

O governo já anunciou medidas para viabilizar a devolução dos valores cobrados ilegalmente. Veja o que foi definido até agora e quais são os próximos passos.

 

Reembolso dos valores de abril: quando e como será feito

 

O governo federal confirmou que os valores descontados indevidamente no mês de abril serão devolvidos automaticamente aos beneficiários. A previsão oficial é que o reembolso aconteça junto com a folha de pagamento de junho de 2025. 

Ou seja, quem teve descontos sem autorização nesse período deve receber o valor de volta diretamente na mesma conta em que recebe o benefício do INSS, sem necessidade de solicitação prévia.

A suspensão total de novos descontos por parte de sindicatos e associações foi determinada a partir de maio, como forma de estancar as perdas enquanto a apuração do caso continua. 

A Dataprev, responsável pelo processamento dos pagamentos da Previdência, está coordenando o estorno com base nas informações repassadas pelo INSS.

Ainda segundo o Ministério da Previdência Social, a identificação dos segurados afetados está sendo feita com base nas denúncias registradas, cruzamento de dados e auditorias internas. 

Os segurados que não visualizarem o reembolso em junho devem buscar o Meu INSS ou a Central 135 para registrar a contestação.

 

Situação dos valores anteriores a abril: análise pela AGU

 

Enquanto os reembolsos dos descontos indevidos realizados em abril já têm cronograma definido, os valores cobrados antes desse período ainda estão sob análise da Advocacia-Geral da União (AGU). 

A AGU estuda medidas jurídicas e administrativas para viabilizar a devolução completa dos recursos, o que pode incluir ações civis públicas, bloqueio de bens e responsabilização direta das associações e sindicatos envolvidos.

A complexidade está em identificar todos os segurados prejudicados, os valores exatos de cada desconto e os responsáveis diretos por cada cobrança. Segundo a AGU, o objetivo é garantir que ninguém fique no prejuízo, mas ainda não há um prazo definido para o início dos reembolsos anteriores a abril.

O governo também avalia, em parceria com o Ministério da Previdência Social e o INSS, formas de acelerar essa apuração. Enquanto isso, os beneficiários podem reunir comprovantes e extratos detalhados para facilitar possíveis ações futuras, tanto individuais quanto coletivas.

Cuidado com novos golpes sobre “devolução facilitada”

 

Com a repercussão do escândalo dos descontos indevidos no INSS, criminosos estão aproveitando a confusão para aplicar novos golpes. 

Um dos mais comuns envolve promessas falsas de “devolução facilitada” dos valores cobrados. Beneficiários são contatados por telefone, mensagens ou redes sociais e induzidos a fornecer dados pessoais ou pagar taxas antecipadas. 

É preciso redobrar a atenção para não cair em outra armadilha!

 

Como os criminosos estão tentando aplicar novas fraudes

 

Após a repercussão do golpe, novos criminosos começaram a se passar por servidores do INSS, oferecendo falsas restituições. Eles:

  • Entram em contato por telefone ou WhatsApp
     
  • Pedem dados pessoais e bancários
     
  • Dizem que vão depositar o valor “em poucos dias”
     

Outro golpe é um que promete agilizar a devolução de valores descontados, a partir do pagamento de uma taxa. Nesses casos, criminosos usam vídeos feitos com inteligência artificial (deepfakes) para passar um ar de credibilidade, ludibriando os beneficiários. Saiba mais

Isso é golpe. Não forneça nenhuma informação!

 

Onde o aposentado deve buscar informações seguras

 

Diante do aumento de golpes relacionados à fraude no INSS, é essencial que os aposentados e pensionistas saibam onde buscar informações confiáveis e seguras. 

O INSS, a Controladoria-Geral da União (CGU) e a ouvidoria do órgão são as fontes oficiais para esclarecer dúvidas e orientar sobre o processo de reembolso. 

Evite cair em falsas promessas e consulte apenas canais oficiais para garantir seus direitos.

Segundo especialistas:

  • O INSS não liga para devolver dinheiro
     
  • Busque informações apenas no site oficial ou pelo número 135
     
  • Use portais como o Meu INSS ou o Fala BR (para denúncias e ouvidoria)
     

Em um momento da vida em que cada centavo faz diferença no orçamento, perder parte do benefício sem explicação causa revolta, insegurança e uma grande sensação de impotência.

A Konsi trabalha na educação financeira de aposentados e pensionistas do INSS, buscando contribuir com um mercado mais transparente e idôneo. Acompanhe o Blog da Konsi!